Como Formar um Leitor?

Existe coisa mais divertida que ler? Magia, fantasia e imaginação são apenas alguns dos elementos presentes nesses momentos, muitas vezes inesquecíveis. Porque então, as escolas formam tão poucos leitores e o gosto pelos livros ainda é uma raridade em nosso país?







Qual o contexto desse problema?

Os estudos apontam que o vilão dessa história é sempre o mesmo: misturar a literatura com atividades didáticas. Com razão, os estudantes não gostam quando precisam fazer resumos ou preencher fichas após a leitura de um texto.
Afinal, se a leitura deve provocar prazer e fruição, não há sentido em exigir tarefas que não tenham relação com isso. Estimular as múltiplas interpretações dos alunos privilegiando a construção de sentidos para os textos, estabelecendo relações com a realidade dos alunos e seus conhecimentos prévios e promovendo a construção de seu conhecimento por meio de atividades problematizadoras, deveria ser o objetivo da leitura.















O que dizem os PCN?


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A leitura e a escrita, segundo os PCN de Língua Portuguesa:

Como destacado no PCN de Língua Portuguesa, para a participação social efetiva, é necessário ao indivíduo o domínio da língua oral e escrita, visto que é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, se expressa e partilha opiniões.
Assim, cabe à escola garantir que todos tenham acesso aos saberes lingüísticos, formando-os para a cidadania.
Neste documento, é destacado que os índices de repetência nas séries iniciais se relacionam à dificuldade que a escola tem de ensinar a ler e escrever, visto que trata os textos como algo sem vida, sendo estes curtos, simples, empobrecidos e como conjunto de regras a serem aprendidas, e concebe as variedades lingüísticas de menor prestigio como inferiores e erradas, sempre corrigindo a fala do aluno. Ou seja, ao invés de buscar aproximar os alunos de textos complexos, busca-se simplificar a leitura oferecida a eles. Assim, a escola contribui com a formação de leitores que somente decodificam as palavras, porém, não compreendem os sentidos do texto.
De acordo com o texto, a alfabetização não deve se basear na memorização de letras e sílabas, mas sim possibilitar ao aluno perceber o que a escrita representa e a forma como ela representa graficamente a linguagem, bem como explorar a linguagem oral em diversos contextos de uso, levando os alunos a pensar sobre a linguagem para que possam compreendê-la e utiliza-la de forma adequada, além de superar preconceitos relativos à maneira de falar de cada povo e região.


È dever da escola, ampliar os conhecimentos prévios dos alunos, ampliando a capacidade dos alunos na interpretação de diferentes textos de circulação social e de produzi-los, bem como de saber adequar sua linguagem ao contexto comunicativo.
Outro tópico diz respeito à possibilidade de a escola desfazer o mito de que só há uma única forma certa de falar e que a escrita é o “espelho da fala”.
Destaca-se, ainda, a importância de se trabalhar com textos literários no cotidiano da sala de aula, pois este aborda o conhecimento de uma forma específica, explorando sempre suas singularidades, sutilezas, sentidos e profundidade.
Os Parâmetros destacados abordam os objetivos gerais a serem abordados no ensino fundamental, sendo ele:

• expandir o uso da linguagem em instâncias privadas e utilizá-la com eficácia em instâncias públicas, sabendo assumir a palavra e produzir textos — tanto orais como escritos — coerentes, coesos, adequados a seus destinatários, aos objetivos a que se propõem e aos assuntos tratados;
• utilizar diferentes registros, inclusive os mais formais da variedade lingüística valorizada socialmente, sabendo adequá-los às circunstâncias da situação comunicativa de que participam;
• conhecer e respeitar as diferentes variedades lingüísticas do português falado;
• compreender os textos orais e escritos com os quais se defrontam em diferentes situações de participação social, interpretando-os corretamente e inferindo as intenções de quem os produz;
• valorizar a leitura como fonte de informação, via de acesso aos mundos criados pela literatura e possibilidade de fruição estética, sendo capazes de recorrer aos materiais escritos em função de diferentes objetivos;
• utilizar a linguagem como instrumento de aprendizagem, sabendo como proceder para ter acesso, compreender e fazer uso de informações contidas nos textos: identificar aspectos relevantes; organizar notas; elaborar roteiros; compor textos coerentes a partir de trechos oriundos de diferentes fontes; fazer resumos, índices, esquemas, etc.;
• valer-se da linguagem para melhorar a qualidade de suas relações pessoais, sendo capazes de expressar seus sentimentos, experiências, idéias e opiniões, bem como de acolher, interpretar e considerar os dos outros, contrapondo-os quando necessário;
• usar os conhecimentos adquiridos por meio da prática de reflexão sobre a língua para expandirem as possibilidades de uso da linguagem e a capacidade de análise crítica;
• conhecer e analisar criticamente os usos da língua como veículo de valores e preconceitos de classe, credo, gênero ou etnia.

O trabalho com Língua Portuguesa deve ocorrer com base na organização em eixos de uso da língua oral e outro de uso da língua escrita.
Com relação ao trabalho de produção oral, os parâmetros sugerem:

• atividades em grupo que envolvam o planejamento e realização de pesquisas e requeiram a definição de temas, a tomada de decisões sobre encaminhamentos, a divisão de tarefas, a apresentação de resultados;
• atividades de resolução de problemas que exijam estimativa de resultados possíveis, verbalização, comparação e confronto de procedimentos empregados;
• atividades de produção oral de planejamento de um texto, de elaboração propriamente e de análise de sua qualidade;
• atividades dos mais variados tipos, mas que tenham sempre sentido de comunicação de fato: exposição oral, sobre temas estudados apenas por quem expõe; descrição do funcionamento de aparelhos e equipamentos em situações onde isso se faça necessário; narração de acontecimentos e fatos conhecidos apenas por quem narra etc. Esse tipo de tarefa requer preparação prévia, considerando o nível de conhecimento do interlocutor e, se feita em grupo, a coordenação da fala própria com a dos colegas — dois procedimentos complexos que raramente se aprendem sem ajuda.
O trabalho com linguagem oral deve acontecer no interior de atividades significativas: seminários, dramatização de textos teatrais, simulação de programas de rádio e televisão, de discursos políticos e de outros usos públicos da língua oral. Só em atividades desse tipo é possível dar sentido e função ao trabalho com aspectos como entonação, dicção, gesto e postura que, no caso da linguagem oral, têm papel complementar para conferir sentido aos textos.
Quanto à linguagem escrita, o trabalho com leitura tem como finalidade a formação de leitores competentes e, conseqüentemente, a formação de escritores, pois a possibilidade de produzir textos eficazes tem sua origem na prática de leitura, espaço de construção da intertextualidade e fonte de referências modelizadoras. A leitura, por um lado, nos fornece a matéria-prima para a escrita: o que escrever.
Por outro, contribui para a constituição de modelos: como escrever.
Um leitor competente é alguém que, por iniciativa própria, é capaz de selecionar, dentre os trechos que circulam socialmente, aqueles que podem atender a uma necessidade sua. Que consegue utilizar estratégias de leitura adequada para abordá-los de forma a atender a essa necessidade.
Formar um leitor competente supõe formar alguém que compreenda o que lê; que possa aprender a ler também o que não está escrito, identificando elementos implícitos; que estabeleça relações entre o texto que lê e outros textos já lidos; que saiba que vários sentidos podem ser atribuídos a um texto; que consiga justificar e validar a sua leitura a partir da localização de elementos discursivos.
Um leitor competente só pode constituir-se mediante uma prática constante de leitura de textos de fato, a partir de um trabalho que deve se organizar em torno da diversidade de textos que circulam socialmente. Esse trabalho pode envolver todos os alunos, inclusive aqueles que ainda não sabem ler convencionalmente.
É preciso, portanto, oferecer-lhes os textos do mundo: não se formam bons leitores solicitando aos alunos que leiam apenas durante as atividades na sala de aula, apenas no livro didático, apenas porque o professor pede. Eis a primeira e talvez a mais importante estratégia didática para a prática de leitura: o trabalho com a diversidade textual. Sem ela pode-se até ensinar a ler, mas certamente não se formarão leitores competentes.
Para tornar os alunos bons leitores — para desenvolver, muito mais do que a capacidade de ler, o gosto e o compromisso com a leitura —, a escola terá de mobilizá-los internamente, pois aprender a ler (e também ler para aprender) requer esforço. Precisará fazê-los achar que a leitura é algo interessante e desafiador, algo que, conquistado plenamente, dará autonomia e independência. Precisará torná-los confiantes, condição para poderem se desafiar a “aprender fazendo”. Uma prática de leitura que não desperte e cultive o desejo de ler não é uma prática pedagógica eficiente.
Formar leitores é algo que requer, portanto, condições favoráveis para a prática de leitura, tais como:
• dispor de uma boa biblioteca na escola;
• dispor, nos ciclos iniciais, de um acervo de classe com livros e outros materiais de leitura;

• organizar momentos de leitura livre em que o professor também leia.
Para os alunos não acostumados com a participação em atos de leitura, que não conhecem o valor que possui, é fundamental ver seu professor envolvido com a leitura e com o que conquista por meio dela. Ver alguém seduzido pelo que faz pode despertar o desejo de fazer também;
• planejar as atividades diárias garantindo que as de leitura tenham a mesma importância que as demais;

• possibilitar aos alunos a escolha de suas leituras. Fora da escola, o autor, a obra ou o gênero são decisões do leitor. Tanto quanto for possível, é necessário que isso se preserve na escola;
• garantir que os alunos não sejam importunados durante os momentos de leitura com perguntas sobre o que estão achando, se estão entendendo e outras questões;
• possibilitar aos alunos o empréstimo de livros na escola. Bons textos podem ter o poder de provocar momentos de leitura junto com outras pessoas da casa — principalmente quando se trata de histórias tradicionais já conhecidas;
• quando houver oportunidade de sugerir títulos para serem adquiridos pelos alunos, optar sempre pela variedade: é infinitamente mais interessante que haja na classe, por exemplo, 35 diferentes livros — o que já compõe uma biblioteca de classe — do que 35 livros iguais. No primeiro caso, o aluno tem oportunidade de ler 35 títulos, no segundo apenas um;
• construir na escola uma política de formação de leitores na qual todos possam contribuir com sugestões para desenvolver uma prática constante de leitura que envolva o conjunto da unidade escolar.
Como sugestões de trabalho, temos a leitura realizada;

• de forma silenciosa, individualmente;
• em voz alta (individualmente ou em grupo) quando fizer sentido dentro da atividade;
• pela escuta de alguém que lê.
No entanto, alguns cuidados são necessários:

• toda proposta de leitura em voz alta precisa fazer sentido dentro da atividade na qual se insere e o aluno deve sempre poder ler o texto silenciosamente, com antecedência — uma ou várias vezes;
• nos casos em que há diferentes interpretações para um mesmo texto e faz-se necessário negociar o significado (validar interpretações), essa negociação precisa ser fruto da compreensão do grupo e produzir-se pela argumentação dos alunos. Ao professor cabe orientar a discussão, posicionando-se apenas quando necessário;
• ao propor atividades de leitura convém sempre explicitar os objetivos e preparar os alunos. É interessante, por exemplo, dar conhecimento do assunto previamente, fazer com que os alunos levantem hipóteses sobre o tema a partir do título, oferecer informações que situem a leitura, criar um certo suspense quando for o caso, etc.;
• é necessário refletir com os alunos sobre as diferentes modalidades de leitura e os procedimentos que elas requerem do leitor. São coisas muito diferentes ler para se divertir, ler para escrever, ler para estudar, ler para descobrir o que deve ser feito, ler buscando identificar a intenção do escritor, ler para revisar. É completamente diferente ler em busca de significado — a leitura, de um modo geral — e ler em busca de inadequações e erros — a leitura para revisar. Esse é um procedimento especializado que precisa ser ensinado em todas as séries, variando apenas o grau de aprofundamento em função da capacidade dos alunos.
A defesa de práticas significativas e intensas de leitura em voz alta, realizadas pelo professor, centra-se no fato de a mesma:

• ampliar a visão de mundo e inserir o leitor na cultura letrada;
• estimular o desejo de outras leituras;
• possibilitar a vivência de emoções, o exercício da fantasia e da imaginação;
• permitir a compreensão do funcionamento comunicativo da escrita: escreve-se para ser lido;
• expandir o conhecimento a respeito da própria leitura;
• aproximar o leitor dos textos e os tornar familiares — condição para a leitura fluente e para a produção de textos;
• possibilitar produções orais, escritas e em outras linguagens;
• informar como escrever e sugerir sobre o que escrever;
• ensinar a estudar;
• possibilitar ao leitor compreender a relação que existe entre a fala e a escrita;
• favorecer a aquisição de velocidade na leitura;
• favorecer a estabilização de formas ortográficas.
Uma prática intensa de leitura na escola é, sobretudo, necessária, porque ler ensina a ler e a escrever.

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